Introdução
De onde vêem
as denominações e significados dos signos na Astrologia? De onde vêm a
atribuição de significados astrológicos aos planetas? De onde vem a teoria dos
4 elementos – fogo, terra, ar é água – na Astrologia? Como tudo isso se
interrelaciona? O objetivo desse texto é mostrar como o conceito de elementos,
signos e planetas na Astrologia deriva seus significados simbólicos da teoria
das 4 Qualidades Primitivas – Quente, Frio, Úmido e Seco advinda da
primeira observação dos astrólogos antigos sobre as 4 estações do ano.
Como
sabemos os astrólogos antigos estiveram entre os primeiros sábios junto com os
filósofos e cientistas de sua época. Os astrólogos decidiram olhar para o céu
em busca de padrões que explicassem os fatos terrestres, na sua correlação
óbvia (para eles) com movimentos celestes, tal como os antigos assim puderam
identificar com sua “visão treinada” ao longo dos séculos.
A
Astrologia é o estudo das influências cósmicas sobre o gênero humano. É um dos
conhecimentos mais antigos e, certamente, a mais velha (e confiável) forma de
psicologia, construída ao longo de milhares de anos pela observação empírica.
Há a participação de babilônios, gregos e árabes. Os astrólogos ocidentais
modernos ampliaram a matéria com a ajuda do método científico, de modo que a
Astrologia é, hoje, uma síntese sutil de mitologia, psicologia, tecnologia,
ciência e metafísica.
Ao
que tudo indica a Astrologia surgiu com os primeiros esforços dos babilônicos
para preverem os eventos da natureza para cultivarem a agricultura. Queriam
prever tempestades, terremotos, acidentes naturais e assim obterem melhores
resultados em seus cultivos. A Astrologia pode ter sido o primeiro movimento do
homem para tentar controlar as forças da natureza. E nesse intento inicial, os
primeiros astrólogos olharam para as estrelas e para as estações do ano,
buscando os melhores climas ao longo do tempo para o cultivo de certos
alimentos e plantações. Dessa forma, foram criando as suas teorias sobre as
estações do ano, e as Qualidades Primitivas do Tempo.
Observou-se
um fato que foi tomado como uma Lei Universal ou Cósmica: a Lei dos Ciclos, da
Ciclicidade ou Periodicidade. A universalidade absoluta dessa lei, de fluxo e
refluxo, de crescimento e decadência, foi registrada pela ciência física da
época e observada em todos os departamentos da natureza. Dia e Noite, Vida e
Morte, Sono e Vigília, são fatos tidos por nós como tão comuns, mas que evidenciam
uma das leis absolutamente fundamentais do Universo (Lindemann, 2007, p.
91,92).
As estações do
ano foram um dos ciclos observados. Começou-se dizendo que a primavera é a
estação que começava Úmida e depois que ficava mais Quente.
Quando chegava o ponto mais Quente alcançava-se o verão, que começava Quente
e ia ficando cada vez mais Seco, até chegar o outono, e assim,
sucessivamente. Depois de Seco ficaria progressivamente mais Frio,
alcançando o inverno, e depois de Frio voltaria a ficar Úmido,
fase preparatória para a entrada na primavera, fechando e reiniciando o ciclo.
Assim, os
antigos comparavam duas situações extremas – verão e inverno – por uma que
primeiro regula o úmido e seco e a outra que regula o quente e o frio. Essas
Qualidades Primitivas – QUENTE, FRIO, ÚMIDO E SECO – foram inicialmente
correlacionadas ao ciclo de estações do ano, e depois associadas aos 4
elementos – Fogo, Terra, Ar e Água, e por fim aos signos e planetas do zodíaco.
Vejamos como isso ocorreu.
Como dito os
astrólogos voltaram sua atenção primeiro para as estações do ano, em sua
correlação com as quatro Qualidades Primitivas do Tempo. Devemos entender aqui,
o ciclo das estações como um ciclo do Tempo. Assim, as Qualidades Primitivas,
são à princípio, Qualidades Cíclicas do Tempo, um elemento altamente observado
pelos astrólogos, até porque os astrólogos antes de tudo são preditores de
eventos no Tempo.
Os astrólogos
deduziram que essas Qualidades Primitivas são forças atuantes e estados
dinâmicos que existem no cerne de absolutamente tudo. Essas qualidades serviram
de metáfora para descrever dinâmicas, tensões e movimentos no interior das
coisas, algo semelhante aos que os nossos físicos quânticos modernos fazem, nos
dias de hoje, com relação ao mundo de partículas subatômicas para explicar a
dinâmica da realidade.
As Qualidades
Primitivas, mais do que descrições, se tornaram uma metáfora simbólica. Não são
substâncias, como os Elementos (fogo, terra, ar e água), mas sim qualificativos,
e simbolicamente, são forças ou estados dinâmicos, mais associados ao Tempo do
que ao Espaço (mas, como Espaço e Tempo formam um continuum, de certa forma, se
associam também ao Espaço, em menor proporção, porém).
O próprio mapa
astral, com seus signos e planetas derivados de combinações das Qualidades
Primitivas (Quente, Frio, Úmido e Seco), não é outra coisa senão a expressão
gráfica de uma dada qualidade do tempo. Ela pode ser compreendida pela Análise
das Qualidades Primitivas enquanto expressão das diversas dinâmicas possíveis
ao tempo. Resumindo: QUENTE, ÚMIDO, FRIO E SECO – as Qualidades Primitivas –
são, a princípio, fases de um ciclo de tempo e se sucedem continuamente. Depois
de observações seculares se tornaram também uma metáfora simbólica de algo que
acontece tanto na realidade física, quanto na realidade psicológica de cada um
de nós.
O primeiro par
de opostos cíclicos – Quente e Frio – metaforicamente passaram a simbolizar
para os astrólogos antigos, os dois movimentos básicos de qualquer
manifestação, isto é, a Expansão e a Contração. Expansão e Contração são,
então, duas das qualidades primitivas da manifestação. Na filosofia chinesa,
Expansão e Contração são chamados respectivamente de Yang e Yin. Na Astrologia
Ocidental são denominados Quente e Frio. Assim temos:
Expansão =
Yang (Taoísmo) = Quente (Astrologia)
Contração =
Yin (Taoísmo) = Frio (Astrologia)
As formas e
coisas existentes no cosmos são receptivas ou respondem tensamente ao que, de
fora, lhes toca. Essa fluidez ou tensão são as outras duas qualidades
primitivas existentes na manifestação. Na Astrologia são denominadas,
respectivamente, de Úmido (fluidez) e Seco (tensão).
Simbolismo das Qualidades Primitivas
(Quente, Frio, Seco, Úmido)
Quente
O calor é foco
de energia , princípio dinâmico que imprime movimento à matéria. A manifestação
de Quente consiste em energia, vivacidade, voluntariosidade, natureza imediata
e impulsiva, decisão, valor, iniciativa, espírito empreendedor. Imprime um impulso para fora, exteriorização,
força centrífuga, expansão.
Frio
O frio é o
princípio negativo oposto a Quente, e análogo à força de inércia da matéria
pesada e inerte. Princípio estático que leva à imobilização, contração,
retraimento, retenção, reserva e paralisia, das substância, dos corpos e da
psique. É um elemento fixador, conservador, condensador, passivo e
concentrador. Pode produzir depressão, atonia, submissão, inibição, freio,
regressão ou renúncia.
Úmido
Flexível, a
Qualidade Primitiva “Úmido” produz uma natureza suave. Úmido é um princípio de
extensão ou alargamento, plasticidade, receptividade, relaxamento,
apaziguamento, fluidez. Caracteriza-se pela penetrabilidade ou absorção,
levando à unidade através da fusão das partes numa totalidade. Constitui um
fator favorável à fecundidade e à adaptação. Dilatando-se tende ao
auto-dissolvimento, ao integrar-se e ao confundir-se no ambiente. Suaviza e
modera. Mas, pode ser submisso, ingênuo ou impressionável.
Seco
A secura,
negação da Umidade, é um princípio de resistência e tensão. Tende ao
enrijecimento, ao endurecimento, ao constrangimento. Pode funcionar como um
elemento concreto que realiza coisas, mas também que domina, comanda, obriga o
outro a fazer algo, com ou sem o seu consentimento. O Seco produz uma natureza
inflexível, rígida, egocêntrica, com a fã de comandar, obstinado e passional,
levando tudo a um alto grau de intensidade.
Os 4 Elementos
(FOGO, TERRA, AR e ÁGUA)
Para os
antigos, as 4 qualidades elementares (primitivas) – Quente, Frio, Seco e Úmido
– e os 4 elementos (Fogo, Terra, Ar e Água), mais do que forças físicas, eram
princípios ordenadores, testemunhos da substância interna da vida dentro do
ciclo de sua evolução contínua.
O princípio de
qualquer classificação astrológica está na doutrina antiga da formação de todas
as coisas pelos 4 elementos, doutrina essa que reencontramos nos grandes
filósofos (Pitágoras, Empédocles, Platão, Aristóteles).
Na Astrologia,
os Elementos surgem da combinação de
duas Qualidades Primitivas que se interrelacionam. Assim,
Fogo
surge da combinação de Quente e Seco
Ar
surge da combinação de Quente e Úmido
Terra
surge da combinação de Frio e Seco
Água
surge da combinação de Frio e Úmido
Fogo e Ar
compartilham da Qualidade Quente, por isso são elementos ativos, Yang,
masculinos, expansivos, enquanto Terra e Água que compartilham da Qualidade
Frio são elementos passivos, receptivos, Yin, femininos.
FOGO,
além de Quente é Seco, assim, seu movimento de expansão (quente) é tenso
(seco), impondo seu valor sobre os demais de modo inflexível. Dessa forma,
percebe-se que os signos de Fogo – áries, leão e sagitário – são signos de
comando, poder e imposição.
AR, além de Quente é Úmido, assim seu
movimento de expansão (quente) é fluido (úmido), mais tranqüilo, adaptável e
versátil, e se manifesta pela comunicação e pelo intelecto. Os signos de Ar – gêmeos,
libra e aquário – são caracterizados pela sociabilidade, inteligência e
engenhosidade.
TERRA é
Frio e Seco, logo é caracterizado por uma contração (frio) tensa (seca), o que
o leva a concretizar seus objetivos de forma prática, arraigando os valores
externos a si mesmo, com coesão e efetividade (a secura lhe dá poder de ação e
resolutividade). Touro, Virgem e Capricórnio são os signos de Terra, e são
práticos, ambiciosos, realistas e orientados para resultados concretos e
progressivos.
ÁGUA é
Frio e Úmido, assim temos uma contração (Frio) fluida (úmida), caracterizada
pela absorção (frio) emocional (úmida), completamente plástica ao ambiente,
absorvendo e fundindo-se ao meio, muitas vezes, sem forma própria (como em
peixes), mas mimetizando o mundo externo. Câncer, Escorpião e Peixes são os
signos de água e são sensíveis, intuitivos, profundos e espiritualizados.
A Formação dos 12 signos a partir das
Qualidades Primitivas.
Os signos são
formados por diferenças nas proporções das Qualidades Primitivas, no Elemento a
que pertencem.
Por exemplo, o
elemento fogo é formado pela interrelação entre Quente e Seco, logo, todos os
três signos de Fogo – áries, leão e sagitário -
possuem as qualidades primitivas Quente e Seco, porém, Áries possui mais
da qualidade Seco que predomina sobre Quente, enquanto Leão possui mais da
qualidade Quente que predomina sobre Seco, e Sagitário também tem mais da
qualidade Quente que predomina sobre Seco, mas tem um aporte (um “adicional”)
da qualidade Úmido que Áries e Leão não possuem.
Essas diferenças
de proporção entre Quente e Seco, explicam algumas diferenças sutis entre os
signos de Fogo. Embora pertençam ao mesmo elemento Fogo, e sejam muito
semelhantes, não são iguais. Possuem diferenças, e o que explica isso, em
parte, são as diferenças de proporcionalidade das qualidades Seco e Quente que
os compõem, e até mesmo a presença de uma terceira qualidade, no caso de um dos
signos (no caso, sagitário).
Isso vale para
os outros elementos e signos derivados, também.
Se utilizarmos
a seguinte nomenclatura:
Q = Quente; F
= Frio; U = Úmido e S = Seco.
Teremos a
seguinte proporcionalidade de Qualidades Primitivas para cada Elemento e Signo
Derivado, que pode ser representada matematicamente como se segue abaixo:
Fogo (Q + S):
Quente e Seco
Áries: S >
Q (mais Seco do que Quente)
Leão: Q >
S (mais Quente do que Seco)
Sagitário: Q
> S, U (mais Quente que Seco, com aporte Úmido)
Terra (F + S):
Frio e Seco
Touro: F >
S (mais Frio que Seco)
Virgem: S >
F (mais Seco que Frio)
Capricórnio: F
> S, U (mais Frio que Seco, com aporte Úmido)
Ar (Q + U):
Quente e Úmido
Gêmeos: Q >
U, S (mais Quente que Úmido, com aporte Seco)
Libra: U >
Q (mais Úmido do que Quente)
Aquário: Q
> U (mais Quente que Úmido)
Água (F + U):
Frio e Úmido
Câncer: F >
U, S (mais Frio que Úmido, com aporte Seco)
Escorpião: F
> U (mais Frio que Úmido)
Peixes: U >
F (mais Úmido que Frio).
Observe que em
cada elemento, o signo é determinado pela predominância ou concentração maior
de uma das qualidades primitivas formadora do elemento ao qual ele pertence,
sendo que em cada elemento, há um signo formado não por dois, mas sim pelo
acréscimo de uma terceira qualidade primitiva, em grau menor de
proporcionalidade.
É dessas
diferenças de proporcionalidade das qualidades primitivas em cada signo, dentro
do seu elemento, que derivam as estruturas de interpretação que conhecemos para
cada signo, tal como observamos nos manuais sérios de Astrologia Antiga e
Moderna.
Farei uma
síntese interpretativa das fórmulas dos signos que expus anteriormente:
Fogo: Q + S
(Quente e Seco)
Todos os
signos de Fogo possuem as qualidades de Expansão (quente) e Domínio dirigido
(Seco). São signos de comando, liderança e poder.
Mas, Áries (S
> Q) que tem mais Seco do que Quente, em sua constituição, produz uma expansão
mais tensa, agressiva e assertiva do que os outros signos de fogo. Tende a ser
mais rígido, e reage explosivamente a qualquer resistência do meio externo.
Isso pode ser amenizado por outras aspectos do mapa astral, mas olhando para o
significado do signo em si mesmo, Áries se torna mais ditatorial, dominador e
irascível, partindo mesmo para a agressividade física, se necessário.
Leão (Q >
S), que é mais Quente que Seco, consegue expressar seu desejo de expansão com
menos tensão e mais carisma, mas não deixa de ser assertivo, por isso. O
elemento de secura está lá de qualquer jeito, e algumas vezes leão é incisivo,
como qualquer signo de fogo, porém isso é menos evidente do que em Áries. Leão
demonstra sua autoridade com altivez, elegância, grande força, mas mais
moderação do que em Áries. Além disso, a predominância do Quente sobre o Seco,
em leão, confere a esse signo um sentido de proteção (dos seus subordinados ou
afetos), maior do que em Áries (esse, inclusive, é um signo de pouco apego e
acolhimento).
Sagitário (Q
> S, U) tem o predomínio do Quente sobre o Seco, como Leão, mas tem um
aporte adicional de Úmido. Assim, a natureza harmoniosa e criativa (como a de
leão) ganha um caráter comunicativo, e de certa forma mental (Q e U combinados
correspondem a uma parcela de Ar nesse signo). Assim, a liderança sagitariana é
mais flexível, sensível ao coletivo, menos egocentrada e mais intelectualizada,
até mesmo filosófica, e por isso, carismática. A disposição de entender as
necessidades alheias, acrescenta um sentido de justiça a sagitário. Mas, a
qualidade Seco também está presente, e às vezes, pode se apresentar de maneira
tão direta e assertiva, como em qualquer outro signo de Fogo. Aliás, em
sagitário, às vezes isso se manifesta por uma inversão da racionalidade, e a
expressão se torna totalmente irracional e destrutiva, ao extremo.
AR: Q + U
(Quente e Úmido)
Todos os
signos de AR (gêmeos, libra e aquário) possuem qualidades de expansão (quente)
e flexibilidade (úmido) que se manifesta na comunicação e na intelectualidade.
Gêmeos (Q >
U, S) tem o predomínio do Quente sobre o Úmido com um aporte Seco. Gêmeos é o
mais prático dos signos de ar, exatamente por causa do aporte Seco. À
inteligência e a alta capacidade de abstração e comunicação, se somam uma certa
praticidade, capacidade de concretização e atuação eficaz sobre o mundo,
resultando em habilidade, engenhosidade, e capacidade estratégica. Mas, essa
praticidade nunca é do mesmo alcance dos signos de terra (F + S), pois a
Umidade (U) sempre gera algum nível de dispersão, a não ser que haja um
contrabalanço de outras partes do horóscopo individual. A praticidade geminiana
não é financeira como em touro, ou dirigida para a carreira como em
capricórnio, mas aparece na incrível habilidade para encontrar soluções
engenhosas que maximizam a sua eficiência na realização das mais diversas
tarefas.
Libra (U >
Q) tem mais da qualidade Úmida do que da qualidade Quente. O Úmido predominando
traz a qualidade da receptividade e da absorção para as relações interpessoais.
A atuação expansiva do Quente é regida pelo que se absorve das circunstâncias,
por aqueles com quem se mantém a relação. A criatividade está a serviço do
outro, do ambiente, da coletividade. Assim, Libra é um signo social. A
indecisão pode predominar, pois são muitas as impressões recebidas para um
poder relativamente menor de uni-las. Pela predominância do Úmido, Libra tem
acentuadas características femininas, apesar de ser um signo masculino
(Quente).
Aquário (Q
> U) tem predominância do Quente sobre o Úmido. Aqui há uma poderosa
expansão das impressões recebidas, gerando um estado de excitação e uma
tendência a participar dos relacionamentos comandando-os, através do seu
carisma. Não há tensão (secura) para conter essa expansão, havendo uma busca de
liberdade, de novos conceitos, e de tudo que sugira ampliação de limites. Isso
torna esse signo um tanto quanto rebelde, dependendo do contexto. Há um ganho
intelectual óbvio nesse e em todos os signos de ar.
TERRA: F +
S (Frio e Seco)
Todos os
signos de terra – touro, virgem e capricórnio – possuem as qualidades
primitivas Frio e Seco. A qualidade seco lhes confere a capacidade prática de
atuarem concreta e resolutivamente sobre o mundo, ao passo que a qualidade Frio
os fazem concentrar suas conquistas materiais para si mesmos. A capacidade de
retenção (Frio) se concentra a partir de ações concretas no mundo (Seco), de
modo, que esses signos são altamente produtivos, econômicos, e estão
direcionados para o sucesso no mundo prático. Como nos elementos anteriores,
cada signo de terra possui uma diferenciação na predominância de uma ou outra
das qualidades primitivas:
Touro (F >
S) tem predominância do Frio sobre o Seco, de modo que sua qualidade de
retenção material é maximizada. Dos três signos de terra, Touro é o mais
preocupado com o acúmulo financeiro. A qualidade Frio em maior evidência o
torna mais necessitado de segurança material, de modo que seu foco se torna
diretamente o dinheiro. O Frio o faz também mais conservador e resistente à
mudança, tanto no âmbito material, como no âmbito das idéias e dos
relacionamentos interpessoais. A fama de ciumento e possessivo desse signo está
ligado à necessidade de preservar seus vínculos, sem qualquer mutabilidade. Há
aqui, o máximo de retenção com inércia, lidando com o mundo sensível (material)
com o fito de preservação e estruturação das formas concretas, de modo a criar
uma estética. Com a secura em menor proporção, Touro é um signo simpático,
cordial, diplomático, calmo, com tensão em menor evidência do que nos outros
signos de terra, mas não totalmente ausente.
Virgem (S >
F) é o mais Seco dos signos de terra. Disso resulta seu senso crítico
agudíssimo, e às vezes, irritante. A secura produz uma natureza mais tensa que
absorvente, criando uma espécie de barreira ou filtro perceptivo de modo que
nada é aceito com facilidade. Desenvolve-se um espírito de comparação e
análise, que é visto como algo muito normal para o próprio nativo, mas é
inconveniente para outros perfis de temperamento astrológico, dependendo da
ocasião. O caráter é restrito à eficiência e à utilidade na lida com o mundo
material. A predominância do Seco, que é uma qualidade de ação efetiva sobre o
mundo concreto, faz de virgem um signo eficaz, resolutivo, técnico, realista e
perfeccionista, mas há uma perda na ousadia e na criatividade.
Capricórnio (F
> S, U) tem predominância do Frio sobre o Seco, com aporte Úmido em menor
proporção. Estamos diante do mais ambicioso dos signos do Zodíaco. Sua ambição
supera as necessidades financeiras (como em touro) ou o perfeccionismo
habilidoso (como em virgem), almejando a notoriedade, o reconhecimento, o
sucesso em todos os sentidos. A Umidade, ainda que em menor proporção, permite
a esse signo de terra vislumbrar horizontes que vão além da tirania da matéria,
e envolvem valores mais abstratos. Isso não o livra totalmente do apego
(afinal, ainda há o predomínio do Frio e do Seco, que o fazem pertencer ao
Elemento Terra), mas se cria uma certa tensão, sustentada por uma maior
versatilidade, que faz capricórnio atuar para que o mundo material ultrapasse
os limites daquilo que ele já é, para conter valores ligados à sensibilidade
interior. A cabra é o animal que representa esse signo, simbolizando o labor e
a destreza na escalada, mas essa cabra tem rabo de peixe, denotando que além do
parentesco com o elemento água (por ter partes de Frio e Úmido), há algo de
impossível, incomensurável, intransponível ou transcendente na sua escalada.
ÁGUA: F + U
(Frio e Úmido)
Todos os
signos de água – câncer, escorpião e peixes – possuem as qualidades primitivas
Frio e Úmido, de modo que sua característica principal é a emocionalidade. As
percepções (úmido) interiorizadas (Frio) se tornam uma realidade interior, que
se sobrepõe à realidade exterior. A retenção (Frio) ocorre num âmbito mais
fluídico (úmido) do que a matéria (por exemplo, no componente Seco dos signos
de Terra), ou seja, ocorre no campo das emoções, da intuição e da fé. Por isso
além de sensíveis, os signos de água são intuitivos e espiritualizados. As
diferenças entre os signos de água, como ocorre nos outros elementos, dependem
dos diferenciais de concentração das suas qualidades primitivas.
Câncer (F >
U, S) tem predominância do Frio sobre o Úmido, com um aporte Seco. Aqui, a
natureza emocional (F+U) é tensionada por uma necessidade adicional de segurança
material (F+S) como ocorre com os signos de terra, de modo que o canceriano se
força a persistir e a moldar as circunstâncias para preencher essas
necessidades todas. Esse aporte de senso de ação (Seco) é canalizado nos
cuidados domésticos (família, economia doméstica,etc), e num apego ao que é
seguro (Frio) segundo suas impressões pessoais (Úmido). A índole é protetora
(F+U), mas cheia de caprichos (Seco) com uma reação assertiva (Seco) segundo
suas oscilações emocionais e impressões (Úmido), às vezes, repletas de
fantasias.
Escorpião (F
> U) tem predominância do Frio sobre o Úmido. Esse signo é conhecido por ser
“profundo”. Aqui há uma capacidade de interiorização (predominância do Frio)
sem resistências ou tensões (Úmido), até um limiar absoluto, em que a
concentração cria uma rigidez e um poder de vontade pronunciado. De certa
forma, escorpião representa a água no seu estado sólido (gelo), por isso,
embora sensível, é o signo mais estável e corajoso do elemento água. Não tem
medo de nenhum enfrentamento, sendo tão assertivo quanto os signos de fogo, com
um gosto pelo poder e pelo controle. Costuma se dizer que escorpião é um signo
vingativo, mas sua fulminante ação só ocorre quando ele é provocado, pois como
qualquer signo de água, ele também reage aos estímulos do ambiente.
Peixes (U >
F) tem predominância do Úmido sobre o Frio. Estamos diante do mais sensível,
espiritualizado e intuitivo dos signos de água e de todo o zodíaco. A
predominância do Úmido faz com esse signo quase sem forma (pouca predominância
do Frio), de natureza altamente plástica e moldável, tenha pouca condição de
expressão coesa no mundo concreto. Por isso mesmo é o signo menos prático de
todos. As percepções (Úmido) predominam sobre as motivações, de modo que o
pisciano tem um mundo interno (fantasioso) próprio, clivado (separado) do mundo
real. Esse signo sente a necessidade de uma força superior, externa, que
coloque ordem nesse estado de sentimentos oscilantes. Essa segurança pode vir
de amigos mais estáveis, a quem tende a mimetizar, ou pode vir de sua fé, de
sua espiritualidade. Em um caso ou em
outro, a plasticidade passa a se manifestar como alta capacidade de adaptação,
e mesmo versatilidade, com muita produtividade, criatividade, intuição e
inspiração. Em caso contrário, o que domina é o caos, a dispersão e a total
perda de direção.
Nesse pequeno
resumo derivado da interpretação das fórmulas das qualidades primitivas em cada
signo, eu tentei me concentrar nas características dos signos, em si mesmos.
Num mapa astral tudo isso é sopesado pelas posições dos planetas e luminares em
diferentes signos e casas astrológicas. Assim, há compensações, contradições e
complementações que formam uma personalidade completa e que escapam aos limites
da descrição de qualquer signo isoladamente.
Os significados dos planetas a partir
das Qualidades Primitivas
Na Astrologia,
os significados dos planetas também são derivados, em parte, da simbologia das
Qualidades Primitivas. Como a teoria das Qualidades Primitivas é um dos
alicerces da Astrologia Tradicional, ela só é consistentemente aplicável aos 7
astros considerados por essa doutrina, do Sol até Saturno. Os planetas ditos
modernos – Urano, Netuno e Plutão – seguem uma lógica diferenciada de
interpretação e não serão considerados nessa teoria.
Como se sabe,
astronomicamente, O Sol e a Lua são luminares e não planetas, mas na simbologia
(terminologia, vocabulário) astrológica eles são tratados, algumas vezes, como
se fossem planetas, sem nenhuma perda conceitual de seus significados. Os
astrólogos já estão cansados de saberem isso, mas vale fazer a observação para
o leitor mais leigo.
Feitas essas
considerações, segue abaixo a proporcionalidade das qualidades primitivas, na
definição da simbologia dos planetas, na Astrologia:
Sol: Q (5,5)
> S (2)
Lua: U (6)
> F(5)
Saturno: F
(3,5) > S (3)
Júpiter: Q
(1,5) > S (1)
Marte: S (3)
> Q (2,5)
Vênus: U (4)
> Q (0,5)
Mercúrio: F
(1,5) > S (1)
Observe que,
diferente dos signos, há um sistema de pontuação, que nesse caso, foi definido
pelo astrólogo do século XVII, Jean-Baptiste Morin de Villefranche (QUEIROZ,
1989). Devido aos limites desse texto, vou me isentar de explicar a matemática
dessas proporções por enquanto, preferindo chamar a atenção para as implicações
interpretativas dessa proporcionalidade, nesse momento.
Observemos que
o Sol é o “planeta” mais Quente derivando toda a sua significação conhecida de
expansão, enquanto Júpiter que também têm a predominância do Quente sobre o
Seco, funciona como um “pequeno Sol”, tendo também a sua significação de
expansão, como planeta benéfico.
O maléficos,
Marte e Saturno, são os planetas com maior índice de secura.
Saturno e Mercúrio
possuem uma estrutura parecida, tendo ambos a predominância do Frio sobre o Seco,
mas a pontuação de Saturno é maior. São planetas que funcionam bem em signos de
Terra (F+S), tanto que Saturno rege Capricórnio e Mercúrio rege e exalta
Virgem, mas Saturno trata – por sua maior pontuação – da realidade mais
concreta, enquanto Mercúrio tende a ser prático em questões mais conceituais.
Por outro lado, Saturno funciona bem em signos mentais (como Aquário e Libra, e
mesmo em Gêmeos), provavelmente por sua analogia com Mercúrio. Saturno também é
um significador de intelectualidade, como Mercúrio.
Vênus e a Lua
são os planetas mais Úmidos, e por isso, ligados ao mundo emocional. Porém,
enquanto a Lua (U>F) tende a reter, a absorver as impressões do mundo
exterior nas emoções, devido ao componente Frio, que tem alta pontuação (apesar
da predominância de Úmido), Vênus (U>Q) com sua pontuação de Quente, ainda
que pequena, é menos instrospectivo, e mais social, sendo um significador mais
direto dos relacionamentos interpessoais e dos vínculos do que a Lua (o que não
exclui, de modo algum, essa última, até porque a Lua fala de reações
emocionais, isto é, ela é mais reativa e isso também interfere nos
relacionamentos). Vênus fala uma emocionalidade mais terna, exteriorizante,
acolhedora, enquanto a Lua fala de uma emocionalidade mais reacional,
instintiva e absorvente ou instrospectiva. Ambos os planetas, por seu excesso
de Umidade, são planetas Femininos (Yin).
Mais pode ser
dito sobre os planetas, signos e elementos a partir da lógica gerada pela
articulação interrelacional das Qualidades Primitivas na Astrologia, mas creio
que o texto colaborou, pelo menos um pouco, para o treino nesse tipo de lógica
dedutiva astrológica. Novos aprofundamentos serão realizados em outros textos.
No momento, considero interessante sublinhar que a teoria das Qualidades
Primitivas na Astrologia permite compreender a origem dos significados dos
elementos, signos e planetas, e mesmo, nos autoriza a esboçar os desenhos de
uma lógica quase matemático-dedutiva desses significados, configurando o
que se pode ser chamado de lógica astrológica, o verdadeiro atributo do
treino do astrólogo ou estudante dessa antiga arte. Isso fica mais patente
quando produzimos uma fórmula do planeta em cada signo derivando seu
significado, mas isso já é assunto para outro texto...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROMANO, Clélia. Fundamentos da Astrologia Tradicional. SP: Ed. Da Autora, 2011.
LINDEMANN, Ricardo. A
ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios. Brasília: Ed.
Teosófica, 2007.
QUEIROZ, Gregório José Pereira
de. As qualidades primitivas na
Astrologia: a formação dos Elementos, dos Signos e dos Planetas. São
Paulo: Ed. Pensamento, 1997.
BARBAULT, André. Tratado Prático de Astrologia.
SP: Cultrix, 1995.
BENEDETTI, Valdenir (org.). Segredos e Estilos: a arte da
Interpretação dos Horóscopos. SP: Gráfica Assahi, Nov/2008.
Muito bom! Bem didático, os autodidatas agradecem! :)
ResponderExcluirAdorei seu texto, muito bem elaborado, abraço!
ResponderExcluirExcelente! Agradeço a disponibilidade do texto aos interessados anônimos.
ResponderExcluirMeu texto de reflexões! Muito bom!Flavio
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